Na quarta-feira (15 de dezembro)
Entre Mares visitou a
Oficina do Artista Plástico Recifense
Francisco Brenand.
Após atravessar a cidade de Olinda e um trecho da cidade de Recife chegarmos ao bairro da Varzea.
Para pisar na areia do chão da Antiga Olaria dos Brenand é preciso mergulhar em um caminho de terra batida que corta uma mata cheia de pés de caju, jaca, cajá, goiaba, manga entre outras espécies de árvores centenárias que parecem guardar o lugar.
Após a visita fica a impressão de que a mata e o caminho são partes de um portal que conduzem os vistantes a uma outra dimensão, a mundos paralelos, novas formas e criaturas.
Em pouco tempo de caminhada é possível avistar as primeiras criaturas e totens, largos portões e um caminho que parecem informar silenciosamente ou convidar à entrada do lugar, deixando o visitante seguir o instinto descobridor de cada um.
A velha Olaria inaugurada pelo pai de Brenand em 1917 guarda ainda o céu azul de Recife e os pequenos tufos de nuvens brancas que dan
çam sobre as telhas de barro alaranjadas do prédio. Lá dentro as criaturas estáticas e silenciosas pautam as conversas dos visitantes que passeiam e fotografam o complexo escultórico.
"Psicodelia", "misticismo", "realismo fantástico" e o "universo mítico da cultura popular nordestina", tão visitada pelas personagens do amigo de Brennand, Ariano Suassuana, são algumas das referências que se escuta ao atentar as conversas dos visitantes.
Diante do visitante desfilam cortejos e alegorias, qui
çá uma ópera dirigida pelo artista que, a partir das esculturas, suas formas, suas cores e as palavras ditas no silêncio de cada forma e expressão manifestadas ali, compôs uma obra viva, extensa, dinâmica e rica em interpreta
ção.
Esta ópera parece dirigida não por Brenand, mas por um impulso do inconsciente que ordena nossos instintos, que dirige nossos sonhos e pesadelos e, entediados ou fascinados com a nossa capacidade de criação, divagamos e produzimos uma outra provável realidade. Aquela que se mostra nas formas, nas criaturas, nas cenas que se possam desenhar nas mentes a partir, por exemplo, de um olhar lançado a um casal de amantes com pernas grossas, falos gigantes e seios médios.
Criaturas nascem de ovos que sustentam totens. Musas e divas de pernas e nádegas gigantes envolvem o olhar e o leve passo do visitante. O complexo de Brenand é cheio de vida, os seios, as deusas, os falos, os amantes e musas não estão por lá simplesmente por que o artista sempre preferiu pintar e esculpir a nudez humana e as paisagens da natureza.
Em folder sobre a oficina, o arquiteto e escritor Fernando Borba afirma que aquilo que se apresenta nesta obra de Brenand "é mais que tudo, com as invenções de Borges e Octavio Paz, em timbre Nordestino. Os espaços sinfônicos, o Taj Mahal no Jardim, um forno antigo atapetado de lâminas e rituais, jarras e penumbra, sentinelas como peças de xadrez, pilares espetando o vazio, monstros e arcadas trazem-nos o gabinete mágico de Dom Ilán de Toledo(...) uma cidade devastada da Índia, um campo ensolarado com piramides indecifráveis."
Para Borba isso tudo é parte do romanceiro épico de Brenand e tudo ali são pequenas novelas, pequenos contos e curtos poemas. Para ele uma arte que parece tornar a literatura inutil pois a escreve com cerâmica.
Mais fotos da oficina Brenand: http://www.flickr.com/porentremares
Serviço:
A oficina Brenand está localizada em Recife - Propriedade Santos Cosme e Damião sem número - Várzea
telefone: 55 81 3271.2466
Horário para visita: segunda a quinta das 8h - 17h
Sextas: das 8h - 16h
Sábados, domingos e feriados: fechado
www.brennand.com.br
